domingo, 24 de maio de 2015

"(...) se convive com o aluno, expressando tranquilidade, passando as coisas com bastante conversa, o aluno vira um espelho do professor. Agora, se o professor é agressivo, fala palavrão e é mal educado, o aluno vai ser a mesma coisa." Prof. de Boxe Aílton Mendonça

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Entrevista n. 33
Aílton Mendonça
Professor de Boxe


Amigos,


O entrevistado desta edição é o professor Aílton Mendonça, ou simplesmente, professor Mendonça como é conhecido. Figura importantíssima do nosso esporte, não há como se escrever a história do Boxe no Brasil sem mencioná-lo. Apaixonado pelo Boxe desde muito jovem, lutador durante anos (numa época sem oportunidades), treinador de inúmeros atletas e estudioso dos problemas e da metodologia de ensino do Boxe. Enfim, um homem que como ninguém conhece a arte.

Há três anos atrás eu já ouvira falar dele, mas foi somente numa noite clara deste verão que pude conhecê-lo. Homem expansivo, amável, cauteloso nas avaliações e extremamente exigente em seus treinos. Assisti em duas oportunidades esses treinos e observei que essa sua "exigência", essa  sua "cobrança" não segue a linha dos treinadores "carrasco" mas a de um professor que estimula, motiva fazendo o aluno crer na cobrança enquanto uma espécie de vidência do professor sobre potencial do aluno (corretamente estimulado pode sempre dar mais de si).

Por mim, graças a Deus, como sempre até aqui tenho tido permisssão de Deus de realizar estas entrevistas,  declaro sem rasgos de seda que foi uma grande realização pessoal e profissional conhecer o prof. Mendonça e deixar esse pequeno registro de nossa amistosa conversa.

Meus sinceros agrecimentos ao Professor Mendonça por conceder a entrevista, aos seus alunos e a Academia Deles e Delas em Caxias que permitiram a realização da pequena sessão fotográfica que ilustra a matéria e ao lutador da equipe RFT Douglas Mahal por haver estabelecido  o contato inicial entre o Só Casca! e o entrevistado.


Oss !



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1. Só Casca !– Professor muito obrigado por receber o Só Casca! O que representa o boxe na vida do prof. Mendonça?
2. Mendonça – Nilson, olha, muitas vezes os treinadores são os menos prestigiados na história das aulas de Boxe. Porque os artistas são sempre os lutadores. Mas como pode se os treinadores são fundamentais para que os artistas se desenvolvam? Então por isso agradeço de coração a sua iniciativa de se interessar pelo trabalho dos mestres, dos professores, dos técnicos e claro, se interessar por minha história. Bom...o boxe? O boxe é minha paixão, isso, desde criança, no meu berço havia aquele boneco, o João Bobo e eu batia nele, acho que desde ali eu já comecei no boxe, no berço, rsrsrs. Eu tinha dois brinquedos preferidos a bola e o João Bobo.
 
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3. Só Casca !– Isso em Caxias?
4. Mendonça – Sim, eu sou nascido e criado em Caxias. Minha mãe é de Miracema e meu pai é de São Vicente próximo à Araruama. Vieram para Caxias, meu pai e seus irmãos. Todos eram comerciantes, abriram um mercado chamado Organizações Mendonça. A minha família chegou a Caxias pobre e aos poucos com trabalho, esforço e honestidade montou uma rede de mercados. Acontece que há muitos anos atrás houve um quebra quebra na Baixada Fluminense e todo mundo que tinha comércio foi prejudicado, sofreram grandes prejuízos, assim como meus pais. Destruíram os mercados, houve saques, perderam tudo, foi um baque muito grande para a família. Então o meu pai e seus irmãos tiveram que recomeçar do zero... Meu pai teve que se virar, trabalhar em outras coisas como corretor de imóveis, motorista de táxi, foi difícil mas aos poucos todos foram se levantando.
 
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5. Só Casca !– Mas o pai do senhor não era esportista? De onde veio a ligação com o esporte?
6. Mendonça – Não era não, mas eu tenho a quem puxar, a minha mãe, ela era professora de Educação Física e de Artes Industriais. Gostava de ensinar, dar aulas e meus tios paternos sempre foram envolvidos com esportes, um deles, inclusive, era presidente do Recreativo Caxiense, um clube famoso por aqui. Aliás, temos os seguintes clubes importantes em Caxias: o Clube Recreativo Caxiense; Center Clubes (extinto) e o Clube dos Quinhentos. Meu tio organizava diversos eventos esportivos no Recreativo Caxiense, como natação; futebol de salão, campeonato de Judô...
 
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7. Só Casca ! – Tinha Boxe no Caxiense?
8. Mendonça – Não, o único lugar que tinha Boxe em Caxias era na Academia Líder, não me recordo o nome do professor de boxe mas o proprietário, Sr. Antônio, algumas vezes ajudava a dar aulas embora fosse treinador de judô.


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9. Só Casca ! – A sua primeira experiência com o boxe, em eventos?
10. Mendonça – Foi no Tele Catch.
 
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11. Só Casca ! – Ao vivo ou na televisão?
12. Mendonça – Ao vivo, aqui em Caxias havia eventos de Tele Catch no Recreativo, e nos Quinhentos, participavam desses eventos Verdugo, Ted Boy Marino, Marrom, isso por volta de 30 anos atrás. Vivenciando aquilo de perto fiquei encantado, mas ao mesmo tempo achei a coisa muito teatral, como de fato era. Comecei a pensar numa coisa mais real, foi aí que veio a idéia de buscar o Boxe. Só que na época não havia muita literatura sobre o boxe, até mesmo lutas para assistir, hoje é bem diferente, há milhares de vídeos na net, livro e etc. Mas, o fato é que comecei a ficar mais atento e a procurar, até que conheci um ex-lutador o Severino... mas não consigo lembrar o sobrenome dele.
 
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13. Só Casca ! – Também em Caxias?
14. Mendonça – Sim, em Caxias, ele era lutador profissional, lutou pela Federação de Boxe do Rio de Janeiro. Ele sofreu um acidente de moto e ficou incapacitado de lutar, daí ele passou a ensinar o Boxe. Contra a vontade de minha mãe, porque o Boxe tinha um estigma de ser um esporte violento, comecei a treinar. Todo mundo que lutava Boxe na metodologia antiga sofria com o espancamento. Funcionava assim, entrava na academia e tinha que sair no tapa para poder sobressair e poder permanecer na academia.
 
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15. Só Casca ! – O professor Claudio Coelho comentou isso comigo também, em uma entrevista que ele deu ao Só Casca! A metodologia do passado era desnecessariamente violenta com os alunos, terminava por assustar muita gente do Boxe.
16. Mendonça – Verdade, muita gente corria do Boxe logo no início dos treinos. Eu entrei e apanhei também, mas minha vontade era tanta que continuei no Boxe. Vivia com meu rosto marcado, mãos machucadas de bater saco. Até que chegou uma certa hora que decidi ensinar.
 
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17. Só Casca ! – Quando o senhor começou com esse prof. Severino quantos anos tinha?
18. Mendonça – Eu tinha uns 17 anos por aí, o treino dele era muito bom, nem sei se ele ainda é vivo, não consigo mais o contato, ele sumiu. Uma época até tentei procurá-lo, mas sem resultado. Se estivesse vivo eu consequentemente traria para ficar comigo ensinando Boxe. Mas, como eu dizia, além dos treinos com o Severino eu comecei a buscar outros treinos e encontrei os treinos com o grande Santa Rosa no centro do Rio de Janeiro. Uma academia toda velha, mas tinha de tudo o que uma academia de boxe precisava, relógio importado para marcar as lutas, ringue, sacos, tudo. Uma quantidade imensa de lutadores passava por lá, tanto brasileiros quanto estrangeiros. O Santa Rosa olhou para mim, não me deu muita bola, um garoto magro e narigudo e me botou para sair no tapa com um aluno dele e assim fiz, como eu sempre agüentava o tranco comecei a me sobressair, não corria. Convivi com o lutador Marreta que disputou títulos e vários outros lutadores profissionais, foi uma experiência muito importante para mim. Esses lutadores mais experientes não me machucavam, deixavam que eu praticasse o boxe. Eles tinham autoconfiança suficiente para não precisar sair arrebentando todo mundo.
 
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19. Só Casca ! – Professor, só para explicar para os leitores, o senhor fala que o Boxe era muito bruto, mas era uma questão, um problema metodológico do boxe do passado, não é?
20. Mendonça – Sim, um problema com o método, como falei, imaginavasse que na porrada, apanhando, era o único meio de se aprender o boxe. Eu não aceitava aquilo, mas não falava para ninguém porque alguns pensavam da maneira antiga.
 
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21. Só Casca ! – O senhor naquela época já percebia isso?
22. Mendonça – Mesmo novo, tanto no Boxe como na vida, eu já percebia. Acredito que por já possuir o hábito de querer ensinar vindo através dos exemplos de meus pais, especialmente da minha mãe que era professora, desde o início tentava imaginar como fazer diferente a metodologia do boxe. Até que um dia combinei com o professor Severino  de montarmos uma academia lá na rua Nilo Vieira, 202 em Caxias. Foi a primeira academia somente com aula de Boxe – Boxe Mendonça. Combinei com ele para dividirmos o horário das aulas, começava pela manhã e terminava somente de noite. O aluno pagava a mensalidade e podia fazer aula o dia inteiro, se quisesse. Mas ninguém resistia porque a gente puxava muito o treino, era duro. Desde o início o professor Severino também ensinava pelo método antigo, não quis me meter na aula dele e deixei o negócio fluir. Academia estava bem movimentada, cheia, no final da aula eu tinha que lavar o ringue da academia e as paredes porque ficavam espirradas de sangue. Muita gente treinando, batia no nariz e espirrava, quando entrava uma mulher para assistir ficava apavorada, saia correndo e dizia: “o que é isso? Vocês estão se matando aqui dentro!”, Entendeu? a coisa era dessa forma.
 
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23. Só Casca ! – Tinha bastante alunos?
24. Mendonça – Olha, por volta de 500 alunos, um exército! Como eu consegui colocar 500 homens lá dentro? Nem sei explicar, mas a minha propaganda era a seguinte: todo mundo de bandagem nas mãos correndo nas ruas para o aquecimento. Eu corria por toda a cidade de Caxias e aquilo causava a maior curiosidade nas pessoas e consequentemente chamava a atenção de todos. Era um marketing muito bom que alguns professores usam hoje em dia, mas em Caxias, fui eu quem criou. Chegou um ponto que eu não tinha mais espaço para todo mundo treinar.
 
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25. Só Casca ! – Deu para o senhor fazer um poupança com isso?
26. Mendonça – Olha deu para ganhar algum dinheiro nessa época...
 
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27. Só Casca ! – E lutadores?
28. Mendonça – Fiz bastantes lutadores nesta época, campões de torneios. Mas, o Brasil... você sabe, o cara não ganha dinheiro no Boxe, infelizmente a realidade é essa. O cara para ganhar dinheiro no Boxe tem que ir para os Estados Unidos ou outro país, porque aqui não dá. Porque se ficar no Brasil... O lutador não consegue ganhar dinheiro, viver do boxe, a luva é muito baixa e tem premiações que não  são em dinheiro. E até casar outra luta, demora alguns meses fica difícil porque as contas vencem mensalmente .....


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29. Só Casca ! – Desse primeiro exército, tem algum lutador que foi assim um expoente?
30. Mendonça – Não, só foram campeões de torneios regionais, mas recentemente eu tenho a história deste rapaz aqui desta foto. Ele trabalhava como segurança em boates e lutava Boxe Tailandês, era campeão não sei de que organização... até que um dia tomou um tiro na perna, teve um complicação e a perna dele ficou deformada, bem fina. Fez fisioterapia e decidiu depois, vendo que não dava mais para treinar o Boxe Tailandês como fazia antes, veio procurar o Boxe Inglês comigo. Conversou, explicou a história dele e começamos os treinos. Eu coloquei nele um calção bem comprido, até o joelho, ninguém percebia a deficiência na perna, mais localizada na coxa. Assim começamos a treinar e ele voltou aos torneios de Boxe Tailandês. Mesmo com a deficiência na perna foi campeão Carioca, fez algumas lutas fora do país, usava mais o boxe nos combates e um pouco de chute com a perna saudável. Ele chegou a ir no Cláudio Coelho de muletas comigo, quando chegávamos perto do CIEPE lá onde é a Nobre Arte eu falei para ele guardar as muletas na mala do meu carro. Chegando lá fazia luvas com todo mundo no Cláudio Coelho. Assim levantei a autoestima dele e era o que faltava para ele ser campeão. Ele Também fez várias lutas depois pela Federação de Boxe. Além dele, posso citar militares da Marinha, por exemplo, que tem muita tradição em serem amantes do Boxe e atualmente me procuram quando há torneios por lá. Também  tive o Mazinho, peso pesado que fizemos várias lutas aqui no Rio e uma em Buenos Aires, tive o Claudinho, peso galo que foi campeão carioca, o Antônio Maria que ganhou várias lutas, Sinval, lutador profissional paulista, Marcelo Theodoro que foi meu pupilo e hoje é integrante da Federação e sempre tive meus fiéis escudeiros Gabriel, Daniel, Jorge Maluco, Borracha (que era também do Telecath). O atual presidente da Federação, Césario, na época que lutava, enfrentou por diversas vezes alunos da Academia de Boxe Mendonça. E muitos outros alunos que lembro da fisionomia mas não me recordo o nome neste momento mas que guardo com muito carinho nas minhas lembranças. Não teria o nome que tenho se não fossem por eles.
 
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31. Só Casca ! – O senhor estava falando que seu primeiro professor, o Severino, virou seu sócio, mas ele usava a antiga metodologia da “pancada” para dar aulas, como foi conviver com essa situação?
32. Mendonça – Resumindo a história, aos  poucos eu consegui convencê-lo de  que as aulas podiam ser diferentes. Com cuidado para não ofendê-lo, expliquei que para podermos obter mais alunos talvez fosse uma boa idéia trabalhar, criar um tipo de treinamento não só voltado para preparar lutadores para disputar torneios, criar um tipo de aula menos agressiva, como opção ao aluno que buscava apenas condicionamento físico, queima de calorias, através do Boxe. Foi ficando claro essa idéia e com o tempo, devido aos bons resultados da aplicação deste método, que ele era proveitoso não só para aproximar as pessoas do Boxe que não tinham a pretensão de ser lutadores como até mesmo para estes. Uma outra coisa importante, não me preocupava somente com a metodologia do ensino do Boxe, desde o início de tudo, com esta academia que abri com o Severino, já dava importância a disciplina, ao comportamento de meus alunos. Uma regra sempre muito clara para mim era que aquele que criasse confusão em algum torneio e evento podia se considerar desde ali como expulso da Mendonça Boxe.
 
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33. Só Casca ! – Isso já aconteceu? Houve em algum momento necessidade de expulsar algum aluno da academia por indisciplina?
34. Mendonça – Graças a Deus nunca aconteceu, vou te explicar por que. O aluno é o espelho do professor, se convive com o aluno, expressando tranquilidade, passando as coisas com bastante conversa, o aluno vira um espelho dele. Agora, se o professor é agressivo, fala agressivamente, fala palavrão e é mal educado, o aluno vai ser a mesma coisa.
 
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35. Só Casca ! – Um aspecto que muitas pessoas reclamam nas artes marciais, especialmente talvez no Jiu- jitsu que está massificado, sujeito é um excelente professor, sabe ensinar as técnicas; mas por outro lado, não consegue ser mestre, porque não é um exemplo como pessoa...
36. Mendonça – O professor tem que dar exemplo... porque o aluno vai se comportar como um filho. Eu considero meus alunos como se fossem filhos, aconselho, presto atenção no  comportamento deles. O Boxe não é só a  raça que ele vai ter, a  técnica que ele vai aprender, há em jogo aí também a parte psicológica, a humana, o carinho, o respeito que ele vai ter pelo mestre, isso tudo vai influenciar na formação de um vencedor. Não quero do meu lado um cara mal educado, vai contaminar meus alunos, entende? Laranja podre no laranjal contamina tudo, a mesma coisa com alunos. Por pensar e agir assim ao longo de minha vida eu passo nas ruas aqui de Caxias e as pessoas param para me cumprimentar, buzinam, muitas vezes eu nem sei com quem estou falando. Nessas horas eu só levanto o braço e digo “Opa! tudo bem?!” e graças a Deus é assim todos os dias. Sabe por que? No geral são alunos antigos que passaram por mim e tem boas lembranças de nossa convivência, gratidão por terem não só aprendido sobre Boxe, mas talvez um pouco sobre a vida. Isso me faz bem.
 
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37. Só Casca ! – Nesse histórico todo com o Boxe, a sua qualificação, o que é relevante destacar que o senhor buscou para se aprimorar?
38. Mendonça – No Boxe eu  fiz o curso da Federação de Boxe do Rio de Janeiro, diplomado pelo cubano Juan Antonio Samaranch do Comitê Olímpico Internacional, isso há cerca de 25 anos Atrás, o treinador foi Jesus Dominguez Garcia. Desse mesmo curso participaram pessoas importantes do Boxe no Brasil. O famoso lutador Servílio de Oliveira que foi bronze nas Olimpíadas de 1968 no México, o mesmo ficou cego de uma vista por conta das luvas usadas na época que eram muito secas e machucavam demais; o grande professor Santa Rosa fez o curso também; um treinador da Pirelli muito famoso, o Antônio Carollo; mestre Narany da academia de Muay Thai Naja era muito magrinho na época e o Sidney da Robério que disputou título mundial de meio médio ligeiro, não ganhou mas chegou lá no desafio. Esses eram os mais famosos, infelizmente, não me lembro mais do restante do pessoal que participou do curso da Federação. É bom destacar que além de minha paixão pelo Boxe eu também trabalho com o futebol. Senti necessidade de não ficar preso a um esporte só, de abrir um leque de oportunidades, entende? Daí me formei em Educação Física que me ajudou muito na minha formação como técnico de Boxe e também fiz curso de fisiologia de futebol. Resolvi fazer a faculdade com o apoio da minha esposa, Eliete Mendonça, sem a qual seria impossível para mim concluir o curso. Devo esse incentivo a ela e toda a ajuda durante o transcorrer do curso. No começo da faculdade, tínhamos um bebê em casa, nosso filho Paulo Arthur e agora recentemente tivemos uma menina, Isabella. Essa vai ser lutadora, é brava, rsrsrsrsr...
 
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39. Só Casca ! – Esse curso foi importante na sua formação? E por que razão?
40. Mendonça – Foi um curso chave para mim. Porque a metodologia tinha haver com a minha.

41. Só Casca ! – O senhor viu que estava no caminho certo? O professor Tinha disse-me a mesma coisa a respeito dos cursos de Boxe que foi fazendo ao longo da carreira, eles foram convencendo-o que estava no caminho certo.
42. Mendonça – Isso, eu me identifiquei. O Boxe cubano é um boxe mais técnico, ele não parte para a brutalidade, ele parte na técnica para depois definir, entendeu? Então gostei muito desse curso, encaixou certinho com o que eu pensava, vi que desde o início minha intuição não estava errada. Fui a partir daí dando mais atenção a escrever e pesquisar sobre a metodologia do Boxe, tenho muita coisa escrita acerca de questões práticas, entradas, saídas, tenho planos de escrever um livro esclarecendo ao grande público minha metodologia, meu ponto de vista do ensino do Boxe adquirido ao longo de todos esses anos, uma vida dedicada ao Boxe, preciso apenas é de alguém que me ajude.
 
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43. Só Casca ! – Bom, falamos de seu aperfeiçoamento para o Boxe e o futebol?
44. Mendonça – Fiz Educação Física, trabalho com ginástica para idosos e com o futebol. Ajudei muitos jogadores de futebol a virarem profissionais, viver do futebol, encaminhados por mim. Tenho alunos meus na Arábia Saudita, não me deram nada, mas também não importa, não pedi nada, quis ajudar. Há pessoas que ajudam querendo uma coisa em troca, as vezes temos a impressão que todos são assim. Eu não, ajudo desinteressadamente. É da minha índole.
 
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45. Só Casca ! – Sei muito bem do que o senhor está falando, isso no meio da luta também parece ser muito frequente, cansa, desgasta a gente, não é professor?
46. Mendonça–Nada mais me surpreende ...
 
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47. Só Casca ! – Eu entendi seu ponto de vista, professor, a gente faz as coisas desinteressado, mas, essas decepções aborrecem ou no mínimo desanimam, testa nossa boa vontade...
48. Mendonça – É... por isso eu dou preferência ao aluno que é honesto, tem boa índole, não briga com os outros. Nós somos o ambiente que vivemos.
 
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49. Só Casca ! Há um preconceito ainda existente que o ambiente de lutas é pra gente desajustadas...
50. Mendonça – Não! Isso depende do professor que ele tem. Acredito que todo mundo pode mudar. Eu já tive como aluno bandido, bandido mesmo, chegava armado para as aulas isso na época que eu tinha 500 alunos no passado.
 
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51. Só Casca ! – Mas, respeitavam o senhor?
52. Mendonça – Claro! Eu brigava com todo mundo, chamava a atenção de que não queria ninguém armado na academia. Porque no meio de 500 homens tinha bandido e polícia juntos, eles conviviam no treino e eu fazia todo mundo se respeitar no treino.
 
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53. Só Casca ! – Interessante uma coisa, um professor de Judô que chamou-me a atenção a respeito. Ele disse que os esportes de lutas são esportes coletivos porque para lutar eu preciso do meu amigo, do meu parceiro de treino para treinar, isso vale não só para o Judô, para o Boxe e sim para todas as lutas. Mas, deixe eu voltar a questão... então o senhor hoje em dia trabalha com futebol e com o Boxe?
54. Mendonça – Eu trabalho indicando atletas de futebol (olheiro) para uma empresa de gerenciamento de jogadores. Ajudo os meninos a tentarem ser jogadores de futebol, muita gente não consegue. Por exemplo, eu tinha um trabalho de futebol aqui em Caxias no Campo do Gramacho, havia muitos jogadores bons lá. Não é porque eu sou exigente não, o nível de cobrança é grande e sóuma minoria é aproveitada. No Boxe também é muito difícil sair um bom atleta, envolve muitos fatores. Eu trabalho em uma ONG para 100 crianças e o boxe está incluso ASCAC.
 
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55. Só Casca ! – O que é um bom atletade Boxe?
56. Mendonça – O bom atleta de Boxe é o que tem em primeiro lugar disciplina, para saber escutar, aceitar as opiniões do treinador e saber que sempre é hora de se aprimorar, nunca vai saber tudo e ter humildade. Também deve possuir as seguintes qualidades: reflexo, reação, saber entrar e sair dos golpes, ter boa esquiva, ter calma quando estiver ocasionalmente perdendo porque é normal acontecer, não se apavorar, ser educado pois a vitória envolve várias condições que são elas: a técnica, a psíquica e a emocional. O Boxe é para pessoas inteligentes, é um jogo de xadrez. Normalmente quem joga xadrez força a mente, não é? É inteligente, no Boxe é a mesma coisa. Um exemplo, um lutador está de frente para o outro em um ringue. O lutador vai bater e sair, quando ele bate e sai a mente tem que estar atenta o tempo todo no que ele vai fazer tanto na hora de entrar como na hora de sair. Não pode esquecer de mentalizar um segundo sequer isso. Porque dá brecha para o adversário. Há caras que entram para lutar no reflexo, reativo, sem estar com a mente ligada no que vai fazer, enfim, sem uma estratégia. O cara quer jogar no contra ataque, mas ele tem que estar o tempo todo com uma sequência para usar na entrada;por exemplo, bateu saiu, quando entrar vai buscar a ponta de queixo, sai; a próxima ele vai buscar linha de cintura e uper e vai sair; depois que entrar sequencia de jab e cruzado. Então ele tem que estar pensando o tempo inteiro, sincronizado, um momento de indecisão o outro ganha. Isso é difícil demais de se passar para o aluno. Quando o aluno consegue fazer um pouquinho desse tipo de raciocínio ele passa ser um cara diferenciado.
 
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57. Só Casca ! – Hoje em dia seus alunos participam de que torneios?
58. Mendonça – Olha, nesse período todo tinha me afastado da Federação, por que? Fiquei um período sem participar de eventos, estava só dando muitas aulas como personal trainner. Mas, a Federação me convidou para voltar, mandaram uma carta para mim, solicitando minha participação nos eventos...
 
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59. Só Casca ! – Levando alunos?
60. Mendonça – Sim, levando alunos, eles se preocuparam em saber onde eu estou. Querem a minha presença. Até mesmo porque muitos que compõem a nata do boxe no Rio de Janeiro são meus amigos, alguns como o Claudio Coelho pertence a minha época,  crescemos juntos; há também o Raffi Giglio, este aliás, recomendo você entrevistá-lo é um guerreiro da nossa época. Então como eu lhe dizia... a Federação me convidou para participar e vou me filiar novamente. Recentemente eu participei de um evento realizado pelo Alessandro Leite.
 
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61. Só Casca ! – Na Upper?
62. Mendonça – Isso um evento realizado na Upper pelo Alessandro Leite e o Rafael Vinícius no dia 28 de fevereiro deste ano de 2015, fora da Federação de Boxe. Mas eu sou muito querido pelo Cesário, atual presidente da Federação, e eu vou participar também dos seus eventos.
 
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63. Só Casca ! – O senhor leva fé agora que a Federação de Boxe do Rio com nova presidência faça um bom trabalho?
64. Mendonça – Eu acho sim que o Cesário representa uma renovação. O senhor Maurício, o antigo presidente, um homem excelente, carregou o Boxe nas costas...Ele e o Santa Rosa durante muitos anos organizaram vários eventos e também tinha um senhor que sempre os acompanhava, figura distinta, educado e sempre com os seus óculos escuros....
 
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65. Só Casca ! – Mas, ficou muito tempo no poder...
66. Mendonça – Sim mas fez muitas coisas boas levando em conta que não tinha muitos patrocínios. Essa geração que chegou nova, veio com gás, com vontade de mostrar serviço, vontade de levantar o esporte. O pessoal tem idéias inovadoras que pretendo abraçar.
 
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67. Só Casca ! – Dentro dessa história da Federação, hoje em dia eu vejo um esforço muito grande do presidente Cesário de incentivar os professores a fazer o curso oferecido por lá. O senhor concorda? Como o senhor mesmo declarou há pouco o curso de treinador de Boxe oferecido pela Federação foi muito importante na sua vida profissional, hoje em dia isso ainda vale? Os professores devem sim fazer o curso?
68. Mendonça – Eu acho que se a pessoa tiver tempo acho bom sim. Porque só acrescenta. Só acrescenta. Tem que pagar uma taxa não sei quanto...
 
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69. Só Casca ! – Na conversa que tive com ele soube que é R$ 700,00, mas dependendo do caso eles facilitam o pagamento...
70. Mendonça – Aí é melhor ainda, o professor se qualifica, se credencia é muito bom sim. Chega com mais respaldo para conseguir trabalho. Hoje nós estamos vivendo um “boom” do esporte...E com a aproximação dos jogos olímpicos, as pessoas estão procurando mais as lutas e descobrindo o seu valor.

71. Só Casca ! – Pois é professor, hoje em dia todo mundo diz que sabe Boxe. O cara lutou MMA e se apresenta como treinador de Boxe... sem ter formação, como o senhor vê isso? Isso existe?
72. Mendonça – Verdade, isso existe direto, ensinam tudo errado. Na minha época eu era o único treinador formado para o Boxe pela Federação em Caxias, agora você acha um monte de professor de Boxe, mas não são qualificados, alguns não possuem o curso da Federação de Boxe.

73. Só Casca ! – Para ser professor de Boxe tem que ter curso de Educação Física?
74. Mendonça – Não é necessário, mas é bom. O indispensável é o Curso da Federação. Eu quis me qualificar e fiz a graduação em Educação Física. O curso de Educação Física dá mais segurança ao profissional, você estuda anatomia, conhece a musculatura do atleta, você enxerga como se estivesse olhando o aluno por dentro. Você sabe o músculo que está trabalhando, assim, talvez, talvez um professor que não seja formado não tenha esse conhecimento. Não estou falando mal de ninguém... entendeu? Só estou afirmando que essa formação dá mais segurança ao profissional. Por exemplo, muitos alunos meus já tiveram o ombro e o nariz deslocados e eu consegui encaixar de volta na hora porque o sangue ainda estava quente. Faço com segurança e conhecimento, tive algum estudo fisiológico e fui treinado na faculdade para essas situações.
 
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75. Só Casca ! – Professor, já falamos sobre sua experiência, começamos agora a comentar agora sobre o Boxe institucionalmente ao mencionar a Federação e da qualificação dos professores, nessa mesma linha, pergunto ao senhor o que hoje é urgente ajustar, corrigir, enfrentar, como queira chamar, qual a questão atualmente indispensável de se trabalhar para que o Boxe possa ir adiante no Brasil?
76. Mendonça – Na faculdade de Educação Física eu fiz uma monografia tratando da representatividade do Boxe em relação a outras lutas olímpicas no contexto do incentivo financeiro. Pesquisei os incentivos existentes. As pessoas dizem que o Boxe ele é muito mal apoiado pelo Poder Público, mas não mencionam que há Lei de Incentivo ao Esporte como um todo a lei nº 11.438/2006. Pouca gente do meio esportivo conhece, infelizmente. Entre outras coisas ela permite que empresas invistam em projetos e tenham o valor do investimento abatido do Imposto de Renda. Através dos mecanismos desta lei é possível obter financiamento público para o esporte, mas isso não é feito. Imagine uma grande empresa que vale bilhões repassar 1% do valor que tem a pagar de Imposto de Renda para um projeto de Boxe? Não precisa nem ser uma grande empresa pode ser uma menor, mas esse dinheiro não é descontado, não é deduzido pelas grandes empresas para o Boxe e para os outros esportes. Aí é que eu acho que a Federção deveria intervir, conversar com as empresas e tentar buscar que este valor seja repassado honestamente para o boxe. E, também tem a lei Agnelo Piva que 2% da arrecadação dos jogos da loteria édestinado ao esporte. Na época da monografia entrei em contato com o Comitê Olímpico porque o Boxe é olímpico para saber qual era o critério de distribuição para as modalidades esportivas. A resposta era de acordo com a movimentação das competições daquele esporte, ou seja, não tem um critério rigoroso talvez, não tem valores e percentuais préfixados e com isso muitos esportes que poderiam ter mais praticantes, abrangência, ficam muitas vezes a desprestigiados. Essa é a grande verdade.

77. Só Casca ! – Mas, porque professor? Falta de confiança?
78. Mendonça – Isso, acham que o dinheiro vai ser desviado. Falta de conhecimento das leis por parte da população mas os integrantes das Confederações de Esportes tem que estar mais antenados para poder receber estes incentivos!

79. Só Casca ! – Então o problema urgente é reverter a falta de confiança?
80. Mendonça Sim, um deles.
 
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81. Só Casca ! – Qual o outro?
82. Mendonça– Deixa eu te explicar. Além da falta de confiança há outra questão que talvez seja até mais grave. Não sei se você sabe, mas nos Cursos de Educação Física toda faculdade deve oferecer uma luta na sua grade de disciplinas, de 80 faculdades que eu pesquisei no Rio de Janeiro somente uma, isso mesmo, uma! oferecia o Boxe e mesmo assim a grade era opcional, na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UERJ. Nesse opcional quase ninguém faz. Veja bem, de 80 faculdades no Rio de Janeiro. Desinteresse ou no mínimo desconhecimento do Boxe. Falta estratégia, digamos assim.

83. Só Casca ! – Ao que o senhor atribui isso?
84. Mendonça – A resposta é a falta de divulgação do esporte para que as empresas possam ter confiança para investir. Esses são os fatores negativos. Existe também como já falei os programas de compensação do Imposto de Renda para os contribuintes pessoas físicas ou jurídicas que podem doar parte do que são obrigados a pagar para qualquer esporte e/ou instituição que queira ajudar. Essa falta de divulgação, prejudica, engessa o crescimento do Boxe no Brasil, ou melhor, do esporte. O Boxe sempre foi discriminado. Esse período agora é ótimo para nós, temos uma oportunidade única na história de dar uma virada total nesta situação. Porque as lutas estão na moda, o MMA está provando que uma luta depende da outra, ou melhor dizendo o MMA está provando que todas as lutas dependem do Boxe, não importa se você é fera do Jiu-jitsu para lutar o MMA vai precisar do Boxe; se você luta Sumô, vai precisar do Boxe; atémesmo o atleta de Muay Thai que tem trocação, vai precisar de Boxe. Se o cara no MMA não tem noção do Boxe ele está morto! Portanto, o momento é este. Depois de toda essa volta respondendo a sua pergunta são dois os problemas que aguardam solução para “ontem”: Reestabelecer a confiança e credibilidade das pessoas e organizações que estão a frente do Boxe e divulgálo. Sem isso vamos continuar como estamos desde sempre, ninguém consegue viver profissionalmente do Boxe no Brasil, se quiser alguma coisa tem que ir para o exterior.

85. Só Casca ! – Concordo inteiramente professor, credibilidade e divulgação. A credibilidade, já que estamos falando de pessoas e instituições e praticamente não existe fiscalização dessas atividades no Brasil, ao menos na prática... não se resolve de uma hora para outra, mas a divulgação é possível a curto prazo, fazer alguma coisa. Chegamos então a um ponto, a representatividade, a responsabilidade. Quem de fato é o responsável por bater na porta do empresário, do Poder Público para auxiliar o Boxe? É o atleta? É o treinador? É a Federação?
86. Mendonça – Eu acho que a Federação podia abraçar isso, a responsabilidade de buscar empresários, financiamento para criar um Centro de Treinamento Grandioso de Boxe. As academias, treinadores mandariam seus atletas para esses eventos ou Centro de Treinamento. Sem apadrinhamento de atletas dando chances a todos professores que desde que federados pudessem enviar seus atletas. Isso seria uma fábrica de campeões.

87. Só Casca ! – Isso ajudaria também os treinadores?
88. Mendonça – Ah, Nilson, o treinador nunca ganha nada, é sempre esquecido, eu nem menciono. Já ouviu falar de treinador que acompanha o aluno? O treinado só conta com a generosidade do aluno, quando há... Mas, apesar disso, se houver espaço para a ascensão do lutador, fatalmente sobrará alguma coisa para o treinador.

89. Só Casca ! – Então o senhor acha que a Federação tem uma grande responsabilidade nisso?
90. Mendonça – Tem sim. Claro!

91. Só Casca ! – Vemos hoje em dia que os eventos que estão ocorrendo são iniciativas isoladas dos próprios professores com seus alunos e auxílios de pouquíssimos empresários.
92. Mendonça – Verdade. Mas, tinha que passar isso para a Federação. Ela que tinha que organizar, assumir mais esse papel.

93. Só Casca ! – Um outro dado é que nesses poucos eventos existentes não só de boxe, mas de MMA também, por exemplo, inexiste um seguro de acidentes para o atleta. Ele por exemplo, pode subir no ringue fraturar a mandíbula e de lá ter que correr para fila da emergência de algum hospital pública com sua bolsa de R$ 500,00 (quando o evento é grande!) nas mãos. Um quadro digamos temerário e sem solução e pior sem previsão de solução. 
94. Mendonça – Sim, Nilson, isso realmente é um risco grave que convivemos, infelizmente.

95. Só Casca ! – Então professor, eu concordo com o senhor que este é um momento oportuno para virar o jogo e divulgar o nosso querido Boxe Brasileiro, mas temos que aproveitar evitar essas práticas ruins cometidas com os nossos atletas...sejam continuadas...
96. Mendonça É, Nilson, a situação é difícil, quem vive no mundo da luta, eu falo por mim que vivo no Boxe a vida inteira, sei o quanto é difícil manter a chama do Boxe. As condições são ideais? Não são. Portanto, vamos aproveitar com muita boa vontade o que temos, o pouco que temos que justamente por ser pouco devemos considerar como muito. Veja a iniciativa desse menino, o Alessandro Leite, a ação dele é maravilhosa ele está reunindo um grupo de atletas para fazer eventos lá na Upper. Assumiu a responsabilidade para si para poder fazer a coisa funcionar. Não tem bolsa, ele cobra uma pequena taxa para comprar os prêmios como luvas, camisas, protetores, sapatilhas são prêmios simbólicos. O que vale de tudo isso é que o Boxe continua e o atleta tem oportunidade de se preparar, de conseguir experiência. Quando o atleta é novo ele tem a ansiedade de nunca ter subido num ringue quando sobe fica um pouco travado por mais treinado que ele esteja, daí a importância desses eventos.

97. Só Casca ! – Uma das perguntas habituais das minhas entrevistas, quais foram as ou qual pessoa com quem o senhor conviveu que foi importantes na sua história?
98. Mendonça – Eu tive e tenho a sorte de conviver com muitas pessoas maravilhosas. Convive com o prof. Santa Rosa, uma pessoa maravilhosa que me passou uma experiência muito grande, me dava muitas broncas, rsrsrsrsr; convivi com o Maurício Cristino, ex-Presidente da Federação de Boxe do Rio de Janeiro, homem sério, ágil, competente, infelizmente falecido em 2014; os seus filhos  que tem academia, sempre educados, distintos, solidários e acompanhantes do pai durante toda a sua jornada e também querem ver o bem do esporte. ..... Sem contar nos juízes de boxe que conheci ao longo desses anos (sempre muito gentis e excelentes profissionais), todos também com certeza, amantes do boxe. Um deles era o Daniel Fux que atualmente trabalha em uma rede de televisão como comentarista de boxe. Percebo que quando se ama um esporte cada um contribui ou participa da sua maneira e o boxe aqui no Rio ainda está vivo por causa desses amantes. E, também ressalto os meus amigos treinadores de boxe: Maurício Du Bocage que era da Luvas de Ouro, Raff Giglio como já falei, o Chagas, o Balbino  de Cabo Frio, Cláudio Coelho, o lutador Gaúcho da Nobre Arte, o Sombra da Noite, O Fera de Acarí, o Tinha .....e em vários eventos que o Cláudio promovia no CIEPE de Ipanema, lutadores como Murilo Bustamente e Vitor Belford eram presenças assíduas no mundo do boxe, assim como o atual proprietário da Academia Delfim. Com certeza esqueci de mencionar algumas pessoas, perdoem a minha memória, rsrsrsr
 
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99. Só Casca ! – Professor, o que precisamos para ser um “casca”!? O que precisamos para ser duro e enfrentarmos os desafios com disposição e coragem ainda que eles sejam grandes? O que a sua vida lhe ensinou a respeito?
100.Mendonça – São várias coisas importantes. A começar pela fé. A pessoa tem que ao acordar agradecer a Deus só pelo fato de levantar e estar viva e saúde para praticar esporte; a pessoa tem que em todos os lugares que passar deixar o bem, fazer amizades; a pessoa tem que neutralizar o pensamento ruim, eu estou sempre com Deus no coração e dispenso as coisas ruins, fofocas, pessimismo, isso me ajuda; fazer o bem para as pessoas desinteressadamente, se vai receber alguma coisa em troca, não importa, está nas mãos de Deus; avaliar sempre as companhias, com quem está andando, porque a credibilidade de um homem é muito importante.

101.Só Casca ! – Aqueles que quiserem fazer um treino, um seminário com um professor capacitado como o senhor, como fazer?
102.Mendonça – Estou na Academia Dellas e Dellas, aqui em Caxias às 2as e 4as feiras das 19:30 às 20:30hs, Rua Marechal Deodoro, 617 tel. – 2671-9465 e vou estar em outra academia também, a Bunker Escola de Artes Marciais às terças e quintas. Dou também treino personal para lutadores profissionais, vou até ele com meu equipamento, manopla e etc e dou aulas. Tenho também um projeto pessoal, quero montar um Centro de Treinamento, um galpão com ringue montado no meio para realizar eventos da Federação de Boxe também aqui em Caxias, amador e profissional, dentro desse galpão quero instalar uma boutique com todos os acessórios de Boxe, sapatilha, luva, short, camisa tudo com minha marca Mendonça Boxe. Minhas últimas considerações para que as pessoas sejam estimulas a praticar o boxe: ele  Socializa, disciplina, traz auto controle, responsabilidade, diminui agressividade, aumenta produtividade, tira a ociosidade  e fisicamente traz força, potência, velocidade, agilidade, flexibilidade, resistência, coordenação motora, coragem e determinação.